Por: Reinaldo Pinheiro
Aproveitando o final de semana para atualizar minhas informações acerca do mercado imobiliário brasileiro – na sociedade da informação e de transformações à velocidade da luz em que nós vivemos, temos de estar com o dedo na tecla F5 do nosso cérebro o tempo todo; nunca a expressão navegar é preciso foi tão oportuna – deparei-me com um artigo do site do jornal El país que me chamou muito a atenção. Isso porque o referido texto cujo título é “Bolha imobiliária à brasileira mistura preço alto e crédito limitado” traz a enigmática expressão “Bolha Imobiliária à Brasileira”.
Nas discussões que acompanho via Web acerca da Bolha Imobiliária Brasileira, os interlocutores tecem suas abordagens construindo um raciocínio que compara dados e informações técnicas do Mercado Imobiliário Brasileiro aos de períodos que antecederam as bolhas imobiliárias de outros países.
Ao lastrearem suas análises na perspectiva supracitada, os debates se concentram na asserção de que o Brasil não vive uma Bolha Imobiliária. No entanto, é preciso perceber que as crises econômicas nem sempre podem ser previstas apenas comparando dados técnicos atuais com os de crises passadas. Caso essa mera comparação nos permitisse antever as crises, jamais teríamos a crise imobiliária americana e, após esta, jamais teríamos formação e estouro de novas bolhas imobiliárias.
“Em 1991, o valor somado dos imóveis do Japão atingiu 18 trilhões de dólares, quatro vezes o preço de todos os prédios e casas dos Estados Unidos na época. Apenas o terreno do Palácio Imperial, em Tóquio, valia mais que todas as casas e prédios da Califórnia juntos. Embora fosse o auge da ascensão econômica e financeira do Japão, o preço estava muito além de quaisquer bons fundamentos econômicos. A bolha estourou, e vários dos bancos que financiaram a especulação imobiliária quebraram. O Japão entrou num longo período de estagnação econômica e os imóveis agora custam a metade do que custavam naquela época. Passados quinze anos, são os Estados Unidos que experimentam o mesmo fenômeno – só que em dimensões e com riscos muito maiores.”[i]
Como deixa implícito o autor do texto “Bolha imobiliária à brasileira mistura preço alto e crédito limitado[ii]”, a Bolha Imobiliária Brasileira pode ter características específicas que não permitem delineá-la apenas com a comparação entre dados técnicos. Daí a expressão “Bolha imobiliária à brasileira”. Segundo o texto de Frederico Rosas, “a bolha no Brasil se diferencia por ser uma bolha de preços, e não de crédito, como foi no Exterior.[iii]”. Rosas defende seu ponto de vista, afirmando que
“A expansão acelerada do mercado imobiliário [...] alimentou um quadro de desordem na formação de preços. O aumento da concessão de crédito, com a estabilidade da moeda, coincidiu com os programas de habitação do governo, como o Minha Casa Minha Vida, voltado às pessoas menos favorecidas. Os preços dos insumos de construção civil subiram, ao mesmo tempo em que o custo dos terrenos foram às alturas.”[iv]
Rosa, citando Samy Dana[v], resume o porquê que os preços dos imóveis brasileiros podem nos indicar a formação de uma bolha imobiliária, ainda que os dados do mercado imobiliário brasileiros não sejam comparáveis ao de outros países antes do estoura de suas respectivas bolhas imobiliárias.
“‘Para uma bolha se formar, é necessário que nem todos acreditem na formação dela, senão ninguém compraria (os imóveis)’, completa. O economista diz que uma das bases da bolha é a ‘teoria do tolo maior’, que consiste em alguém que paga caro por uma casa ou apartamento, por medo de que o valor aumente no futuro.[vi]”
Assim, conclui-se que Dana foi ao cerne da questão. A questão das crises imobiliárias vai além da mera conformação de dados técnicos com contextos anteriores em que a mesma foi observada. As crises imobiliárias têm, como mais um elemento constitutivo, a questão das representações humanas e suas formas de atribuição de valor – não me refiro estritamente à atribuição de preços. O “efeito manada”, alimentado pela mídia, e criando e sustentando expectativas em torno do espetáculo da Copa do Mundo da FIFA e da realização das Olimpíadas no Rio de Janeiro contribuíram sobremaneira para a formação da ideia de que os imóveis valem muito mais do que o que eles realmente valem. Assim, formou-se a Bolha Imobiliária Brasileira. Este é o fato concreto. O fato a que temos que nos ater agora é como desinflar essa bolha sem que esse processo promova um verdadeiro tsunami na cambaleante economia brasileira. Uma coisa se pode afirmar, continuar negando a existência da bolha como fazem o governo e os meios midiáticos só contribui para o aumento da dimensão da catástrofe.
[i] SILVA, Chrystiane. GUANDALINI, Giuliano. A maior bolha econômica da história. Disponível em: http://veja.abril.com.br/180106/p_062.html Acesso em: 07 de Dez. 2013
[ii] ROSAS, Frederico. Bolha imobiliária à brasileira mistura preço alto e crédito limitado. Disponível em: http://brasil.elpais.com/brasil/2013/11/24/economia/1385257402_721348.html Acesso em: 07 de Dez. 2013.
[iii] Idem, Ibidem.
[iv] Idem, Ibidem.
[v] Samy Dana possui Ph.D em Business, doutorado em administração, bacharelado e mestrado em economia. É professor na Escola de Economia de São Paulo da FGV, coordenador de International Affairs e do Núcleo de Cultura e Criatividade -GV Cult. É consultor de empresas nacionais e internacionais dos setores real e financeiro e de órgãos governamentais. Dana é autor dos livros “10x Sem Juros” (Saraiva), em coautoria com Marcos Cordeiro Pires, “Como Passar de Devedor Para Investidor” (Cengage), em coautoria com Fabio Sousa e “Estatística Aplicada” (Saraiva), em coautoria com Abraham Laredo Sicsú. Escreve semanalmente, `as segundas, no Caderno “Mercado” da Folha de São Paulo.
[vi] ROSAS, Frederico. Bolha imobiliária à brasileira mistura preço alto e crédito limitado. Disponível em: http://brasil.elpais.com/brasil/2013/11/24/economia/1385257402_721348.html Acesso em: 07 de Dez. 2013.
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